Paragráfos Interessantes

Artistas das Sinaleiras

Os pedaços de pau velho, o sorriso infantil, os olhos pidões e os corpos de diversas cores moldados em suas magrezas peculiares, às vezes atraem a atenção das latarias novas, dos olhos urbanos e dos corpos elegantes e perfumados, que têm suas bundas sentadas em bancos aconchegantes. Esse é o cenário que se vê antes da faixa, e em cima desta nota-se um cenário bastante contrário, mas cada vez mais freqüente __ pés descalços que pisam o asfalto quente ou frio na busca da sobrevivência.

Sob a luz do sinal vermelho o espetáculo começa com seus artifícios pobres, mas bonitos. Os pequenos corpos brancos, morenos e negros exibem suas performances com as possíveis habilidades que possuem. O show é iluminado pela luz do sol durante o dia, e pelos faróis ao cair da noite. Pode-se notar através das expressividades artísticas e da elegância pueril a sujeira acoplada nas peles magras e o sorriso cariado nas bocas famintas. Esse é o cenário que vive em cima da faixa de pedestre durante os sessenta segundos do sinal vermelho.

Antes da faixa o cenário é composto por um velho de cabelos brancos escutando o Bolero de Ravel no seu carro de bancos de couro. De tão inteirado na sinfonia mal pode passar uma frecha de olho nos meninos do outro cenário. Num carro ao lado do velho, uma mulher de cabelos longos, inteirava-se na sua imagem refletida pelo espelho, que a suportava com seu narcisismo exacerbado. O jovem da moto observava os meninos se apresentarem. Seus olhos castanhos olhavam aquele espetáculo com a mesma frieza que congelava seus dedos. Os sessenta segundos do sinal vermelho proporcionava o encontro de dois cenários díspares, de dois mundos distanciados pela frieza do capitalismo. E aquele encontro não possuía a nenhum milésimo de segundo um olhar recíproco.

O fim dos sessenta segundos, acabam anunciando o fim do espetáculo, e à luz do sinal verde os cenários se desencontram __ os carros seguem seus caminhos e os artistas voltam a seus lugares com as mãos vazias. Aquela apresentação não atraiu a atenção de ninguém. Só as vezes isso acontece.

Vamos interiorizar We are the World de Michel Jackson, que diz

Nós somos o mundo, nós somos as crianças

Nós que fazemos um dia mais brilhante

Assim comecemos nos dedicando.


Cultura e Identidade na Contemporaneidade



"Cada sociedade, grupo social ou indivíduo tem um conjunto de expressões singulares, que refletem um modo de viver próprio e um sistema de valores, com os quais se constroem as diversas identidades. Elas, por sua vez, podem reconhecer e se respeitar pelo diálogo e pelos intercâmbios."


A frase de Sergio Marbert nos remete a reflexões sobre a singularidade das expressões, o modo próprio de viver e o intercâmbio de diálogo entre as culturas contemporâneas. Tais elementos no mundo globalizado têm sofrido alterações profundas, pois o que se verifica são modos cada vez mais mesclados de se viver, e comportamentos cada vez mais miscigenados sob formas mutaveis de pensar, agir e se relacionar. A pe culiaridade tem dado espaço aos encontros, os diálogos têm promovido fortes difusões culturais , onde ser global torna-se mais interessante que ser local.
Com a globalização, a identidade cultural não apresenta contornos e formas tão nítidos, e retratam a dinamicidade cultural como um processo cada vez mais mutável e globalizado. Gordon Mathews (antropólogo), em seu livro Cultura Global e Identidade Cultural problematiza a identidade cultural, a partir do conceito de "supermercado cultural global", e enfatiza a tese de que boa parcela da população mundial, escolhe aspectos de sua vida nas prateleiras de um supermercado. Como então, pensar hoje em dia, em culturas nacionais? Um exemplo bem proximo para os brasileiros é a Rede Globo, a qual dita normas e traz o estrangeirismo, através de suas novelas, como modos temporários de viver, como identidades efêmeras que merecem ser consumidas e experimentadas. Hoje, todos querem dançar músicas indianas e falar arê baba (escrito aportugueisadamente), além de consumir produtos que as personagens usam.
Tem-se falado em um mal estar no processo de identificação, mais precisamente, numa "crise de identidade", onde a fragilização das bases identitárias caracteriza-se, entre outros, como forte fator desse cenário. Para Castoríades (1990) " existe não apenas um mal-estar, mas uma bela crise da sociedade como um todo, que tem sua origem não apenas numa crise de valores, mas também nas significações imaginárias sociais". Neste composto está embutida a nova identidade da sociedade global, a qual mostra-se preocupada com o meio ambiente e as questões sociais , mas que por outro lado , tomou como aspecto forte em sua personalidade o hábito do consumo. As identidades consumista e socialmente responsável apresentam-se como uma forte ambigüidade no mundo contemporâneo, influenciando decisões que permeiam todas as esferas da sociedade, ou seja, a esfera política, religiosa, cultural, econômica, ambiental.

Diante disso, proponho a todos, inclusive a mim mesma , que pensemos melhor sobre nossos conceitos , a identidade que queremos ter e o modo de vida que levamos e desejamos possuir.