27 de novembro de 2010

Painéis Mentais

Somos um mundo de descobertas
Descobrimos...
As coisas simples na infância
As coisas surpreendentes na adolescência
As coisas sérias na vida adulta
As coisas serenas na velhice
Tolice pensar que as descorbertas
Serão cobertas pela morte
Esta, nada mais é
Que um caminho de descobertas
Um caminho carregado
De dívidas pretéritas e
Reconciliações futuras
O pretérito, o presente e o futuro
Nada mais são que
O ciclo necessário
À lapidação existencial
À construção sádia do nosso painel mental
À nobreza dos sentimentos
À escalada em busca da luz eterna.









Desenhos e Poema de minha autoria





























4 de novembro de 2010

Kafka, Gregor e seus Amigos




(Diálogo baseado no livro "A Metamorfose" de Franz Kafka, no qual Gregor Samsa é o protagonista)



O filho, Gregor Samsa, acordou naquele dia completamente atordoado, cansado, mergulhado numa crise existencial de quilômetros abaixo. Seu estado exigiu da família a contratação de um psicanalista domiciliar. Sim, Samsa aclopou-se no seu quarto escuro, como um pinto que se protege nas cascas finas do ovo, não permitindo deslocar-se para outro local.
O pai, Kafka, ouviu do amigo psicanalista de olhar profundo e barba bem aparada: __ “as exigências da sociedade tornaram o viver dificílimo para a maioria das criaturas humanas, forçando-as com isso a se afastarem da realidade e dando origem às neuroses.”*¹
Samsa encontrava-se, naquela manhã, submerso num ego fragilizado, procurando na cama, nos lençóis, na cômoda, um refúgio. Sua mente o atordoava lentamente, como uma metamorfose longa, minuciosa e dolorosa. Sua angustia endurecia-lhe os músculos, deixando-os tensos como a casca da barata que sentia-se ser.
Braun, o poeta, amigo íntimo de Kafka, que estava ali para apoiar o velho companheiro, disse com uma risadinha, a fim de descontrair o ambiente: _ velho amigo, “para uma emoção barata, um inseticida.”*²
Freud, o psicanalista sério, ostentou:__ o estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores, não porque deseje aboli-lo, mas sim porque quer monopolizá-lo.”*³ E veja só, caro poeta, até o inseticida está proibido.
Atordoado com a metamorfose do filho, o Sr. K. via dolorosamente as pernas finas realçarem a dificuldade de Samsa equilibra-se. Seu corpo anestesiado pelo medo estonteante fazia-o cair e arrastar-se pelo chão, como o animal a que se igualara nos intermédios do seu id. Diante tal cenário, o pai K. virou-se para os amigos com ar desesperançoso remetendo-lhes uma sentença sua: _ somos iguais aos troncos das árvores na neve. Aparentemente elas descascam com todo seu garbo,e um ligeiro empurrão bastaria para fazê-las rolar. Não, isto não pode acontecer pois estão firmemente agarradas ao solo. Mas veja, até isto é apenas aparência.”*4
Samsa, meus amigos, estava aparentemente bem, mas sua mente já havia perdido as raízes a tempos. Não percebi tal acontecimento, disse o pai desalento.
O psicanalista com a intenção de acalmar o amigo e tira-lhe a culpa de uma fragilidade paterna que fizera-se incapaz de enxergar o abismo a que o filho atirava-se e entregava-se aos poucos, disse com tom voraz: _ “ a atividade profissional constitui fonte de satisfação especial se for livremente escolhida, isto é, se por meio de sublimação tornar possível o uso de inclinações existentes de impulsos instintivos persistentes ou constitucionalmente reforçados.No entanto, como caminho para a felicidade, o trabalho não é altamente prezado pelos homens. Não se esforçam em relação a ele como o fazem em relação a outras possibilidades de satisfação. A grande maioria das pessoas só trabalha sobre pressão da necessidade, e essa natural aversão humana ao trabalho suscita problemas sociais extremamente difíceis.”*5
O poeta disse olhando para o nada:

Ela
bateu a porta
dizendo
que dessa vez
ia para never more
e eu nem sei
onde fica isso
aguardo um postal*6

Quem despediu-se de mim foi a ansiedade, as neuroses da contemporaneidade. Deixei que partisse. Sem ela vivo o ócio criativo e exilo de mim a velocidade da vida contemporânea, as metas e prazos a que o mundo está mergulhado. É isso que Samsa e considerável parcela de pessoas necessitam fazer.
Todos se calaram com suas taças de vinho matinal nas mãos.

*1 frase de Freud/ *2 frase de Paulo Bahia(poeta)/ *3 frase de Freud/ *4 frase de Franz Kafka/ *5 frase de Freud/ *6 poema de Paulo Bahia

Olá querido (a) leitor(a), você pode deixar aqui um comentário sobre o texto. Obrigada pela visita! Abraços-----------------------------------------------------------------------------------Maíra Bahia

















25 de outubro de 2010

A Terra de Deus, do Diabo e de Patativa do Assaré

(O diálogo abaixo foi inspirado no clássico filme de Glauber Rocha "Deus e o Diabo na Terra do Sol e no cordel "A Triste Partida " de Patativa do Assaré; e compõe o primeiro texto da página Diálogos do Espólio)

O sertão é paradoxal
Quem sofre seu tormento
Longe se vai
Mas logo vem
Porque não tem só o diabo
Nessa terra quente
Tem também Deus com a gente

Cantava o vaqueiro de vacas desleitadas e costelas avantajadas. O homem delgado vestido de trapos sorria com os seus dentes amarelados a felicidade de ver seu sertão.E vê-lo novamente era um presente para aquele homem. Ao provar a fumaça poluída da cidade grande sentiu seu coração apertar em meio a toda aquela gente de passos ligeiros e caras estressadas.
Ao ver aquela cena, lá do alto, Patativa recitou a Triste Partida para Glauber Rocha, e este emocionado disse: __ a Triste Partida vinda de sua boca fica ainda mais bonita e tocante. E num profundo suspiro continuou:__ seu sertão é triste velho Patativa, é uma terra que guarda muita dor. O sangue e a seca a alimentaram em muitas ocasiões.
__ É jovem Glauber, o sertão é mesmo a terra de Deus e do Diabo. O Diabo se manifesta nos estômagos que queimam de fome, mas Deus lá também está. Ele sustenta os corpos fracos de estômagos vazios e os mantém de pé.
__ seu sertão, velho cordelista, não é só a terra de Deus e do Diabo, é também a terra de Patativa do Assaré. Seu canto serve de consolo para seu povo e suas rimas ritmadas transcendem gerações. Olhe o vaquiero que saiu da cidade grande e retornou para o sertão. Ele agora faz da viola seu ganha pão.
__De vaqueiro passou a violeiro. Escuta só Glauber, ele canta meu cordel como seu hino de libertação. Que bom que sua triste partida teve um retorno feliz, e que bom também que ele faz da sua viola sua salvação.
Patativa e Glauber olhavam atentos para o vaqueiro violeiro. Ele cantava para uma roda de gente que o cercava, e seus pensamentos que ardiam na terra poluída agora aspirava a alegria na terra desnutrida. Mas era lá, na terra onde o sol racha as esperanças é que estava a felicidade daquele violeiro, que agora cantava seu próprio cordel, sem as métricas perfeitas do mestre Patativa, mas com a rima esperançosa de um bom sertanejo.

Sou vaquiero
Sou violeiro
Sou cantor
Sou pião
Sou o que
A vida pede
Pra ganhar
Meu pão.

Meu gado
Já magrelo
Procura a
Plantação,
Sua guela
Seca
Geme querendo
Água do sertão.

Eu canto
Eu toco
Pra espantar
Os maltratos
Que já se
Perderam
Em seus passos.

Sou vaquiero
Sou violeiro
Sou homem
Forte do sertão
E toco
Pra essa gente
Pra alegrar
Seus coração.
Maíra Bahia

19 de outubro de 2010

Qual é o seu Sonho?


A bandeira que se levanta hoje é a de que se pode sonhar a vontade. Cultivar o sonho nas pessoas tornou-se a arma principal do sistema capitalista. Pode-se sonhar a vontade, isso porque o sonho está atribuído ao consumo. Consuma e seu sonho será realizado, consuma tudo o que desejar, mesmo que não possa assumir o consumo desse sonho pode levar. Divide-se os sonhos em 12x sem juros, entrada para 30 dias, parcelas fixas, e todas as formas possíveis. Se faltar o dinheiro não tem problema, tem que financie os sonhos. Os juros são saltos, mas dividi-se em 48 meses.
As necessidades dão lugar às fragilidades e angustias do querer ter, de possuir os objetos paridos pelo capitalismo desenfreado. As pessoas passam pelos shoppings com os olhos vidrados nas vitrines e mal percebem que está ao seu lado, e quando se dá conta de que tem alguém á sua companhia não a vê como um possível amigo, ou que trata-se de alguém que procura palavras de conforto. Ao invés de enxergar o interior nota somente o exterior, os objetos que essa pessoas carrega. Eles estão na moda ou já se tornaram obsoletos?
Onde está a humanização do ser humano? Nas empresas eles são vistos e reconhecidos como números, como máquinas que precisam atingir metas. Para os marketeiros são vistos como consumidores, que devem se comportar como animais famintos que disputam objetos numa promoção, para os políticos são vistos como eleitores que devem com o indicador digitar seus números, para o capitalismo são vistos como fantoches que devem caminhar sob a mesma trilha, a do consumo. Mas espera ai... quem são os empresários, quem são os marketeiros, quem são os políticos? Minha nossa... eles são seres humanos. São os piores e mais contaminados pelo sistema, são os que fazem estratégias tendenciosas, sempre pensando num retorno que beneficie a si mesmos, e com isso evidenciam o egoísmo e individualidade humana. Eles são os peixes mais enrolados na rede capitalista. São os perdem noites pensando em como mover o mundo para a frente dos computadores, televisão, rádio, jornais. Os meios de comunicação são culpados por issso? Não, mas sim quem os faz noticiar. O problema não está nessas classes que citei, mas na humanidade em geral.
Vendo-se encurralada de todos os lados, com o pólo Norte desmanchando suas enormes geleiras, com as florestas devastadas, com inúmeras espécies animais em extinção, com os sol irradiando violentamente e o mar revoltando-se enraivecido, o ser humano tenta frear seus instintos consumistas para preservar seu habitat. Diante de tanta maldade e alguns de tanta riqueza, tentam praticar o altruísmo, a solidariedade. Isso faz parte da nova moda! Mas a essência encontra-se abalada drasticamente. A inveja, o ciúme, a luxuria, a individualidade, o ego envaidecido ainda habitam a psique humana. Tudo isso reduz suas ações altruístas a pó, porque são poucos que a praticam de coração. A maioria o pratica para não sair do cenário do status social.
Qual é o seu verdadeiro sonho? Não seja hipócrita consigo mesmo. Admita que é fascinado pelos palcos traiçoeiros do capitalismo. Só admitindo poderá dar início a uma reforma que não deve alicerça-se no exterior, mas no interior da sua própria consciência e existência. Necessito dessa reforma e acredito que muitos que me lêem também!

15 de agosto de 2010

Frida
de Kahlo emocional
de Kahlo material
de Kahlo semi maternal
Frida
de Kahlos
Khalos Fridas
Kahlos Feridas
Feridas da Vida
Kahlos Frida
Frida Kahlo.



(Maíra Bahia)